A (re)educação pelas partes

terça-feira, 10 de abril de 2012

Ao olharmos para trás, o sangue derramado das religiões foi o registro de grande impacto que os historiadores preferiram pontuar. De fato, é o que assusta que deve ser publicado. É o motivo. Como seres humanos são capazes de matar por causa do dogma, da doutrina, de sua verdade? Aliás, é justamente a verdade e o que sai dela que gera o horror.

É isso que leva inúmeros autores e pesquisadores da área a se debruçarem dias e noites, fugindo de si mesmos, concentrando-se no objeto e na ação do sujeito para tentarem entender e fazerem entendidos os atos de guerra e separação tanto de pequenas comunidades como de nações inteiras.

Todavia, as cortinas do palco da história não se abrem apenas com sangue, mas também com educação e projeção de vida. No cenário pós-moderno, notamos que o protestantismo, a religião mais secularizada do mundo, ajudou a educação se tornar um pouco mais elástica no Brasil – ainda que proselitista.

No decurso do século XIX, o catolicismo no Brasil ainda dominava com seu poderio. A sociedade tinha, então, uma nova esperança: o protestantismo, com uma oportunidade de sacudir o jugo e abrir o leque para um novo tempo. A função pedagógica era inovadora. Introduziram o ensino das ciências, de contabilidade, da educação física, do inglês e as classes mistas.

Um novo mundo. Uma nova oportunidade. Um gostinho de “agora entendi”. Embora muito do que se tenha feito não fora o suficiente para aplacar tanta violência e exclusão de mulheres e crianças, o leque foi aberto. O conhecimento começara a ser despido.

A (pós)modernidade trouxe consigo o escândalo da acessibilidade ao conhecimento. Mr. Google está aí para comprovar. O que se demorava dias com uma pesquisa, basta agora uma rápida e eficiente busca no mundo virtual. A espiritualidade não foi por isso ameaçada, pelo contrário, foi ampliada até os recônditos das “veias coronárias”. Só vive num mundo “faz de conta” quem quer ou quem já foi totalmente laçado pela magia e mágica hipnotizante de alguns (maioria) dos discursos religiosos a ponto de tapar seus ouvidos para a nova canção e fechar os olhos para cada novo raiar do sol.

A história não pode ser escrita apenas com uma pena de sangue, os fatos estão diante de e estarão cada vez mais adiante da humanidade, pois o processo é crescente. Infelizmente, a única instituição que busca olhar para trás é a religiosa. Após o divórcio entre igreja e a “crítica liberal”, o “protestantismo” cede espaço aos ditames neo-sacerdotais. A religião – no caso o cristianismo – deveria cuidar de verificar ao menos a prescrição de Paulo: “não seguir o curso do mundo, mas renovar a mente”.

Edgar Morin diz que a soma das partes é maior do que o todo, visto que das partes são estudadas mais partes, e dessas partes, outras partes, e assim por diante.

Tomando emprestado o achado de Morin e inserindo (quem sabe parafraseando) na religião (em se tratando de cristianismo), concluímos que a mesma estuda(va) tão somente o todo e se esquece(ra) das partes que geram outras partes. São essas partes que norteiam o mundo, que dão sentido aos detalhes. Quão bom seria se, mormente o protestantismo, que auxiliou na área da educação, pudesse, em suas EBDs, seminários e púlpitos, examinar as partes para que, enfim, o mundo continue a desenvolver, mas agora, o próprio mundo de Deus.

A pergunta seguinte nos convida a tornar pando o inconcluso tema: O que é, por exemplo, a disciplina de arqueologia bíblica para as Ciências e o campo de pesquisa da própria arqueologia para a Teologia?...

Por: Nelson Lellis



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