Por que Régis Danese e Thalles Roberto?
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Postado por Ventos Modernos às 11:34
Eles são considerados dois fenômenos da música
gospel dos últimos anos e, embora o mundo gospel seja repleto de nomes de maior
envergadura, como é o caso da conhecidíssima Aline Barros, Régis Danese e
Thalles Roberto ganharam a cena, mexendo nas estruturas antes inalteradas pela
presença dos outros que os precederam. Mas isso não se deu apenas como sendo
mais um simples "golpe de mídia", já que a mídia sempre prefere investir em rostos
mais "privilegiados", coisa que, segundo o próprio Thalles, ele não
tem.
O que então explicaria a força que Danese ganhou,
cantando "entra na minha casa, entra na minha vida, mexe com minha
estrutura, sara todas as feridas", chegando a tocar em praticamente todas
as emissoras de rádio e a ser convidado a participar de dezenas de programas de
tevê? E o que explicaria a ascensão de Thalles, que, cantando "de
braços abertos quero te receber, filho eu estava esperando você", chegou à
condição de maior vendedor de dvd´s e cd´s no país, superando quaisquer
outros artistas solo e bandas?
Do ponto de vista sociológico, a explicação vem do
fato de ambos os cantores preencherem de forma singular a uma
específica demanda. Como é sabido, os dois falam diretamente a um segmento
composto por dois tipos bem particulares e que estão em franca expansão no
mundo evangélico: os afastados e os desigrejados. Os afastados abandonaram de
vez o barco e os desigrejados, desiludidos com o sistema de poder no mundo
evangélico, continuam mantendo a fé, embora sem se sentirem pertencentes e sem
uma frequência regular a uma específica comunidade cristã, algo que foi
recebido com louvor por vários segmentos da grande mídia, já que lhes pareceu
uma "libertação da alienação religiosa evangélica", além de os
desigrejados formarem um segmento com uma visão crítica que
lhes catapultou à respeitável condição de formadores de opinião,
possibilitando-lhes mais voz e vez.
Mas é claro que, dados os números das vendagens, os
dois cantores ultrapassaram as delimitadoras fronteiras da música gospel. Tanto
que Danese foi gravado por vários outros cantores e Thalles chegou a ter o seu
maior hit cantado
pela muito conhecida Ivete Sangalo! Ainda assim, a força de tais cantores está
dentro de um segmento bem específico e que ainda prefere comprar cd´s a fazer
cópias que possam lhes gerar um "peso de pecado" na consciência. Por
conta de tal fidelização, então, as gravadoras - praticamente quebradas com o
advento da internet - fizeram
de tudo para que os seus super-astros gospel chegassem aos ouvidos da população
como um todo. Deste modo, abriram-lhes as portas para as emissoras que, até
então, de interesse em música gospel tinham quase nada. Raul Gil que o diga.
É importante também lembrar que, apesar de
parecerem ser apenas mais um golpe de mídia, Thalles e Régis preencheram uma
lacuna nas mentes do povo como um todo - e não apenas os evangélicos - já que,
mostrando que saído da caverna o
indivíduo fica perdido, visto que a realidade se mostra de fato
"real"; mais violenta, assustadora e cruel do que assombras no fundo
da caverna, as letras dos cantores propõem uma volta aos 'braços do Pai",
apresentando a tese de que o indivíduo está fadado a não ser livre, já que
precisará sempre do padre, do pastor ou do analista. Sem um deles, a pessoa não
vive bem, uma vez que precisa de um senso moral socialmente corroborado para se
sentir "certo" e no "lugar certo", que é "o centro da
vontade de Deus".
Até quando se manterá tal sucesso do mundo da
música gospel não sabemos. Todavia, em termos "morais", será
interessante notar a mudança das categorias afastado e desigrejado
para evangélico não-praticante. Quando
isso acontecer, qualquer gravadora estará quebrada, pois, como
afirmou Dostoiévski, tudo será permitido, já que "Deus" não mais
existirá.
Por: Cleinton Souza
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