Toda Teologia é uma Antropologia

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Se existe uma formação que sempre terá problemas para se estabelecer academicamente, essa é a formação em Teologia. São vários os problemas que perpassam essa cadeira acadêmica, a começar pela etimologia da palavra. Sim, para começo de conversa, temos de iniciar esta provocação com uma construção lógica: quem busca a logia (reflexão, conhecimento) do socius, estuda Sociologia. Quem busca a logia do antropós, estuda Antropologia, quem busca a logia da psiquê, estuda Psicologia, quem busca a logia das palavras, estuda a Filologia, e assim por diante. Seguindo-se esse lógica, chegamos ao primeiro problema provocado por este texto: quem estuda Teologia, busca a logia do Theós, o conhecimento de Deus?

Embora a Teologia queira se estabelecer como disciplina científica, ainda está longe de o ser. Isso porque uma ciência precisa ter objeto de análise, bem como métodos e teorias. Por conta disso, a Teologia sempre foi relegada a uma posição acadêmica menor, sendo chamada de "disciplina confessional" e não de "ciência humana". Se a busca da Teologia for pela logia do Theós, o Ministério da Educação estará com a razão, pois o estudo de Deus simplesmente não pode existir, senão numa vertente confessional religiosa.

Para que se torne ciência academicamente reconhecida, a Teologia precisa se admitir como inexistente. Sim, Teologia não existe, bem como teólogos não existem! Explico, questionando: o que tem de científico no estudo teológico? Ao "fuçar" uma grade curricular de tal curso, encontraremos as razões que justificam o presente escrito. Sendo muito honesto, todas as disciplinas de um curso de Teologia são confissões de fé dogmatizadas, ou Antropologia pura e simples, com uma pitadinha de História aqui e ali. Teologia Sistemática, por exemplo: dogma puro e total razão à veemente negação do MEC (importante lembrar que quem acaba de escrever isso é um professor de Teologia Sistemática). Hermenêutica, nada além do que uma boa Análise do Discurso (Linguística) não consiga fazer. Isso se for para buscar uma construção para além do dogma, claro, pois hermenêutica em estudos teológicos mais parece uma nova Sistemática e, consequentemente, confissão de fé.

Eliminando História (de Israel, da formação das escrituras entendidas como sagradas, ou das religiões e denominações religiosas que aparecem nos cursos), que é História mesmo, e as humanidades, como Psicologia, Sociologia e Antropologia, o que sobra que se possa chamar de teológico? Nada. Alguns poderão arguir que sobra a exegese. Bem, sejamos honestos, exegese não é Teologia, levando-se em consideração a logia do Theós; é uma metodologia de pesquisa que lança mão da Arqueologia, da História, da Sociologia, da Antropologia e dos muitos estudos da Linguística para tentar chegar o mais perto possível da intenção que um autor ou texto teve para uma específica época.

Assim, já que a Antropologia Social é uma disciplina comparativa, de base sociológica, com conceitos nucleares como estrutura social, normas, estatutos e interação social, sendo por Franz Boas dividida em quatro campos de estudos, dificilmente se poderia encontrar a Teologia fora de tal alcance acadêmico. Para Boas, a Antropologia deve ser entendida com uma "abordagem de quatro campos" que a dividem em Linguística, Antropologia Física, Arqueologia e Antropologia Cultural. Como a Teologia não consegue fugir desses quatro campos para se justificar como ciência, não resta muito a dizer, senão que toda Teologia é uma Antropologia.

Agora, se admitirmos que o que buscamos analisar não é a logia do Theós, mas os discursos e práticas de grupos sociais em relação às suas divindades (tudo sendo muito bem analisado pelas quatro abordagens da Antropologia), aí sim, estaremos num caminho que se poderá chamar de científico. E, após isso, se nos perguntarem se falar em Teologia não seria um erro semântico, diremos, na boa: "Isso é só um nick; é só um fake, afinal, estamos na era do facebook!".
 
Por: Cleinton Souza

11 comentários:

NELSON LELLIS disse...

Lendo Feuerbach, senti vontade de transcrevê-lo comentando seu post:

"(...) teologia é antropologia, ou seja, no objeto da reliigão a que chamamos théos em grego, Gott em alemão, expressa-se nada mais do que a essência do homem, ou: o deus do homem não é nada mais que a essência divinizada do homem, portanto a história da religião ou, o que dá na mesma, de Deus (porque quão diversas as religiões tão diversos os deuses, e as religiões tão diversas quão diversos são os homens) nada mais é do que a história do homem."

Cleinton disse...

Como diriam "seu" jorge e ana carolina; É ISSO AÍ.

NELSON LELLIS disse...

Ainda sobre o assunto: No livro "A Essência do Cristianismo", Feuerbach trabalha um só lado da moeda, que é Deus em seu estado moral. Em "A Essência da Religião", parece corrigir essa limitação ampliando o foco também para o Deus físico, ou seja, o Deus considerado como a causa da natureza.
Tendo como sua doutrina que o mistério da teologia é a antropologia, cuidará disso afirmando que Deus é projeção humana. Resumirá ainda sua doutrina em duas palavras: natureza e homem.
O relacionamento místico que possui com a natureza e quando este relacionamento se transforma em algo particular, íntimo.
Portanto, quando você afirma que toda a Teologia é uma Antropologia, consegue permanecer na esteira feuerbachiana ou ainda há algum tipo de salvação para a crença?

Cleinton disse...

Eu diria que é mais do que "natureza e homem"; é algo mais para NATUREZA e CULTURA, que é uma interface bastante interessante dos estudos antropológicos. Deus vai ter sempre as características essenciais à natureza humana. Será, portanto, "homem"; mas terá mudanças marcantes também, a depender da cultura onde Ele é "construído", chegando a ser "mulher", por exemplo, a depender da cultura analisada. No mais, vida que segue...

Unknown disse...

Assim como um filho nega a pró-eficiência de um pai que veio antes dele e construiu patrimônio para que dali ele pudesse construir seu próprio, assim são todas as ciências que negam Teologia como ciência sendo esta a mãe de todas uma vez que explora criação e feitos incondicionais do criador.

Unknown disse...

Mesmo que sociólogos do passado, humanizaram o próprio Deus, desqualificaram e reduziram, sem o reconhecimento em suas teorias científicas e sociais, o criador da ciência, o Eterno e infinito! A critura tem seu fim! Como explicar o inexplicável aquele que venceu a morte!

Unknown disse...

De fato, concerteza,o que dirá a criatura cética, sistematizando suas ideologias,reduzindo o Criador?pobre pensadores, autossuficientes egocêntricos, somos um ponto na eternidade, más feliz são os que rende na graça do Deus Criador.

Unknown disse...

Confesso que esse modo de interpretar e ver teologia me abriu a mente para muita coisa, e me fez está ainda mais convicto em estudar teologia. Sou Márcio Victor estudante teologia faberj

Avante Brasil disse...

É como se o vaso de barro tivesse surgido do nada.

Unknown disse...

A teologia é apenas o estudo de Deus para o homem tão limitado, prova da lei de Deus para o homem, se Deus não haje com Graça e misericórdia estaríamos todos perdidos em nossos pecados e delitos, condenados pela nossa dureza e ignorância.

Diogo Maia Merisio disse...

Para mim parece ser um texto com viés tendencioso a denegrir a teologia. A frase: "Teologia Sistemática, por exemplo: dogma puro e total razão à veemente negação do MEC (importante lembrar que quem acaba de escrever isso é um professor de Teologia Sistemática)." é notadamente preconceituosa, e não apresenta sequer uma referência para afirmar se é ou não verdade, o que coloca em xeque se é ou não uma fake news. A quem acusa cabe provar, o que não é feito neste texto preconceituoso. Qual é o professor, qual é o artigo que esta suposta informação retrata? SE não é comprovada, se entendo como falsa. O autor com certeza deve ser Marxista, pois parece ser intolerante religioso como ele. Cheio de falas pragmáticas, sem qualquer referência.

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