Dos grupos judaicos e de um cristianismo autônomo (?)
sábado, 30 de março de 2013
Postado por Ventos Modernos às 11:22
Temos, no séc. I,
uma Judeia governada por estrangeiros, mas um judaísmo que conseguiu manter suas instituições. Havia um clero fortemente estabelecido e, através do sinédrio, suas posições políticas eram determinadas.
A Palestina do século I exibe um judaísmo com diferentes vertentes. De
longe, aquele imaginário bloco monolítico é desfeito com a presença dos
seguintes grupos: fariseus (os separados), saduceus e essênios. São estes os três principais
citados pelo historiador Flávio Josefo.
O grupo dos saduceus, que era integrado por sacerdotes e aristocratas e possuíam certa relação com Roma. A cultura helênica estava impregnada na veia de cada integrante. Além de negar a vida após a morte (ressurreição), não nutriam esperança de um messianismo.
Os fariseus, ao contrário dos saduceus, procuravam focar mais a religião do que a política. Buscavam, entre as massas, ensinar através da tradição, a santidade e a esperança do messias.
Provavelmente, João, o Batista, tenha se originado de um dos grupos místicos existentes entre comunidades de fé - como a comunidade de Qumran, à margem do mar Morto.
Esse mesmo grupo nos revela a outra vertente do judaísmo, os essênios. Consideravam a si mesmos como remanascentes fieis da história de seu povo.
Segundo Josefo, guardavam a lei, mantinham rituais de purificação periódica, renovavam
constantemente sua adesão à aliança com Deus e participavam de uma
refeição sagrada de pão e vinho. Acreditavam no estabelecimento próximo
de um reino trazido por um novo profeta. Apoiavam os fariseus (embora não concordassem com a prática do celibato, o não envolvimento dos animais em sacrifícios e não acreditarem na ressurreição do corpo) e eram contra os saduceus. Acreditavam na imortalidade da alma. Alguns afirmam que Jesus pertencia ao grupo dos essênios.
Outros grupos também faziam parte do cenário, como os herodianos (que apoiou a política e a família dos Herodes); os zelotes - que também eram conhecidos como sicários, devido o punhal que levavam escondido e com o qual atacavam seus inimigos (de caráter militarista e revolucionário opondo-se duramente à ocupação romana); os levitas (que formavam o clero do Templo de Jerusalém e que eram responsáveis pelos sacrifícios e por toda a liturgia); os escribas (conhecedores e comentadores da Lei); os movimentos batistas (que mantinham as práticas de batismo de João); e etc.
O cristianismo, por longos anos, fora uma fatia do judaísmo. Com a Guerra Judaica, no final do séc. I, e a extinção da grande maioria das facções judaicas, o judaísmo gerou o cristianismo como religião autônoma. Mas o cristianismo jamais se lançou para fora dos arraiais judaicos. Enquanto Jesus trilhava com seus ensinamentos para um lado, o cristianismo buscava reconstruir todos os Templos e dogmas que Ele havia dito "eu porém vos digo...".
No presente século, por exemplo, os cristãos ocidentalizam a Bíblia para seus relacionamentos cotidianos, mas por outro lado, orientalizam suas práticas litúrgicas. E vale lembrar que os relacionamentos não são vivenciados livremente em Deus se a mente ainda é apriosionada aos simbolismos passados. A libertação se dá pelos exemplos de rua de Jesus e não pelas correntes de uma lei que ausentam o bendito dito "eu porém vos digo...".
Tanto a retórica como a práxis cristã desvalidam os ditos do Cristo para a autonomia da vida religiosa judaica, tornando-a uma vida puramente religiosa nos moldes dos símbolos e das analogias.
Talvez, aquele que se interessar viver uma vida como a do Cristo, deverá pagar o mesmo preço: autonomia para amar a quem se precisa de amor. E o final, todo mundo já sabe.
Por: Nelson Lellis
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