Dos grupos judaicos e de um cristianismo autônomo (?)

sábado, 30 de março de 2013


Temos, no séc. I, uma Judeia governada por estrangeiros, mas um judaísmo que conseguiu manter suas instituições. Havia um clero fortemente estabelecido e, através do sinédrio, suas posições políticas eram determinadas.

A Palestina do século I exibe um judaísmo com diferentes vertentes. De longe, aquele imaginário bloco monolítico é desfeito com a presença dos seguintes grupos: fariseus (os separados), saduceus e essênios. São estes os três principais citados pelo historiador Flávio Josefo.

O grupo dos saduceus, que era integrado por sacerdotes e aristocratas e possuíam certa relação com Roma. A cultura helênica estava impregnada na veia de cada integrante. Além de negar a vida após a morte (ressurreição), não nutriam esperança de um messianismo. 

Os fariseus, ao contrário dos saduceus, procuravam focar mais a religião do que a política. Buscavam, entre as massas, ensinar através da tradição, a santidade e a esperança do messias. 

Provavelmente, João, o Batista, tenha se originado de um dos grupos místicos existentes entre comunidades de fé - como a comunidade de Qumran, à margem do mar Morto.

Esse mesmo grupo nos revela a outra vertente do judaísmo, os essênios. Consideravam a si mesmos como remanascentes fieis da história de seu povo. Segundo Josefo, guardavam a lei, mantinham rituais de purificação periódica, renovavam constantemente sua adesão à aliança com Deus e participavam de uma refeição sagrada de pão e vinho. Acreditavam no estabelecimento próximo de um reino trazido por um novo profeta. Apoiavam os fariseus (embora não concordassem com a prática do celibato, o não envolvimento dos animais em sacrifícios e não acreditarem na ressurreição do corpo) e eram contra os saduceus. Acreditavam na imortalidade da alma. Alguns afirmam que Jesus pertencia ao grupo dos essênios.

Outros grupos também faziam parte do cenário, como os herodianos (que apoiou a política e a família dos Herodes); os zelotes - que também eram conhecidos como sicários, devido o punhal que levavam escondido e com o qual atacavam seus inimigos (de caráter militarista e revolucionário opondo-se duramente à ocupação romana); os levitas (que formavam o clero do Templo de Jerusalém e que eram responsáveis pelos sacrifícios e por toda a liturgia); os escribas (conhecedores e comentadores da Lei); os movimentos batistas (que mantinham as práticas de batismo de João); e etc.
O cristianismo, por longos anos, fora uma fatia do judaísmo. Com a Guerra Judaica, no final do séc. I, e a extinção da grande maioria das facções judaicas, o judaísmo gerou o cristianismo como religião autônoma.  Mas o cristianismo jamais se lançou para fora dos arraiais judaicos. Enquanto Jesus trilhava com seus ensinamentos para um lado, o cristianismo buscava reconstruir todos os Templos e dogmas que Ele havia dito "eu porém vos digo...". 

No presente século, por exemplo, os cristãos ocidentalizam a Bíblia para seus relacionamentos cotidianos, mas por outro lado, orientalizam suas práticas litúrgicas. E vale lembrar que os relacionamentos não são vivenciados livremente em Deus se a mente ainda é apriosionada aos simbolismos passados. A libertação se dá pelos exemplos de rua de Jesus e não pelas correntes de uma lei que ausentam o bendito dito "eu porém vos digo...".

Tanto a retórica como a práxis cristã desvalidam os ditos do Cristo para a autonomia da vida religiosa judaica, tornando-a uma vida puramente religiosa nos moldes dos símbolos e das analogias.

Talvez, aquele que se interessar viver uma vida como a do Cristo, deverá pagar o mesmo preço: autonomia para amar a quem se precisa de amor. E o final, todo mundo já sabe.

Por: Nelson Lellis

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